Aos que insistem em dizer que Brasília e o Distrito Federal não têm tradições culturais próprias, uma velha revelação: por aqui, há uma multidiversidade cultural enraizada profundamente, feito árvore cerratense. Do passado ao presente, folias e artesanias do sertão goiano se intercruzaram às diversas formas de expressão herdadas dos migrantes que ergueram a capital e também às memórias originárias que muitas(os) de nós persistimos em lembrar. Do presente ao futuro, filhas(os) nascentes neste solo vão dando sotaques próprios aos saberes e fazeres artísticos paridos aqui. Se a cultura é viva, aos poucos vamos firmando nossa amalgamada identidade, tão marcada pelos encontros.

Produzida a partir do olhar sedento por encantamento do fotógrafo, pifeiro, poeta cordelista e comunicador brasiliense Davi Mello, a Exposição Fotográfica Pareiada apresenta um recorte do brincante cenário das culturas populares e tradicionais viventes por todo o DF. É uma pequena e grandiosa mostra firmada em mais de 11 anos de pesquisa imagética e afetiva junto a grupos, artistas, mestres e mestras de tradição oral. É também um desdobramento dos trabalhos realizados por Davi na Pareia Comunicação e Cultura, desde 2014.

Tendo como base o conceito de Patrimônio Imaterial, a exposição busca registrar e salvaguardar parte da memória cultural do “quadradinho”, através das lentes de quem a vivencia de dentro pra dentro. As 30 fotografias do acervo estão expostas em estandartes criados pela artista e cenógrafa Thaís Sampaio e são acompanhadas por estrofes de cordel escritas por Davi Mello e pela também comunicadora e cordelista Keyane Dias.

Pareiada é organizada em seis eixos temáticos: Banda de Pife não Pode Acabar, com fotografias de grupos que ressoam ventoinhas inspiradas em Mestre Zé do Pife e outros pifeiros(as) do Brasil; Terra de São Saruê, com fotografias de bonequeiros(as) que botam mamulengo; Coisa de Poeta Cantador(a), com cordelistas e poetas populares; Terreirada, com batuques, rodas e encantarias afro-brasileiras; A Brincadeira Já Vai Começar, com a arte da palhaçaria e do circo; e Sala de Reboco, com forrós sanfonados e rabecados.

Vale ressaltar que Pareiada é um recorte memorial. Um recorte do extenso e afetuoso trabalho fotográfico de Davi Mello tanto quanto das nossas culturas populares. Para além e nos entrecliques das 30 fotografias aqui expostas, há uma outra infinidade de agentes culturais que seguem intercruzando formas de expressão, ofícios, saberes e fazeres pelos quatro cantos do DF. Que os instantes brincantes aqui registrados nos levem a viver de perto, e cada vez mais de perto, as artes e expressões culturais que mantêm nosso povo de pé, onde quer que ele se encontre.

Por Keyane Dias